domingo, 30 de maio de 2010

Propósito

Passei a semana ouvindo muito Smiths.
Inevitavelmente, essa banda vai sempre me lembrar alguém. Mas sei lá, não fez a menor diferença dessa vez.

Passei pelo teste maior: ouvi aquela música. E não senti nada.
Senti. Mas o que senti foi uma excitação enorme por poder ouvir a música sem pirar no primeiro minuto. Senti uma gostosa sensação de controle. Sensação de que a música poderia me lembrar de muitas coisas, mas isso não importava. Na verdade, quase não pensei em outra coisa a não ser na própria música enquanto ouvia.

Foi bom.

Acho que tenho um motivo pra terapia.
O motivo é algo que já repeti por toda a existência desse blog. O motivo é que há muito eu deixei de sentir as coisas. Sentir de verdade.
Porra, o que acontece? Nunca fui passivo desse jeito. Nunca fui de deixar as coisas passarem e nem pensar. Nem me alterar.

Não sei o que fazer. Não sei se é da minha cabeça ou sei lá.
Parece que perdi a importância, que deixei de ser notado.

E cansei de falar disso sempre. Parece que só falo e falo e não faço nada pra mudar.
O problema é que não sei como mudar.
As coisas vão tomando rumos e não faço nada. Como se nada ganhasse um significado maior. Como se eu não tivesse controle.
Parece que estou sem um objetivo.

Quando eu era mais novo e tudo era mais fácil eu me divertia muito. Havia sempre uma descoberta, uma aventura, e eu tinha pessoas incríveis do meu lado.
Quando eu cheguei no terceiro ano a ficha não caiu que eu tinha uma responsabilidade maior. Eu tava com a minha cabeça de colegial querendo salvar meu namoro e reviver as loucuras de quando a gente não tinha responsabilidade nenhuma.
No ano seguinte eu percebi que ia ficar pra trás se não fizesse alguma coisa por mim. Meu objetivo agora era entrar na faculdade, não importando o que acontecesse e quem estivesse do meu lado. Nunca me foquei tanto e por tanto tempo pra atingir um objetivo.

Sempre tive um objetivo. A diferença é que dessa vez a coisa era mais séria. Mas era só mais um objetivo.
Mas agora, tudo parece solto demais.

Sei muito bem o que devo fazer. Sei que meu dever agora é me formar, conhecer pessoas, preparar o terreno pra minha vida profissional e etc. Gosto de pensar na rede que estou criando. Gosto de pensar que estou planejando meu futuro, que estou criando relações importantes. E que além disso, estou vivendo muita coisa nova, me divertindo e descobrindo mais da vida. E tudo isso sozinho.

Mas ainda assim, tudo parece solto demais.
Estou preparando meu futuro, mas futuro é algo que não passa pela minha cabeça com tanta frequência.
Dificilmente me pego imaginando as coisas daqui um ano ou até menos.
Estou estranho. Estou vivendo o presente. Mas estou vivendo de forma errada, como se não tivesse vivendo mesmo. Estou apenas assistindo tudo passar por mim.
Contar as horas, as aulas, os dias. Pensar que finalmente cheguei na quarta-feira e não preciso dormir cedo. Chegar na sexta-feira e pensar que mais uma semana acabou.
Pensar rapidamente que daqui tantas semanas terei provas, e de repente elas já foram.

Cansei se assistir a minha vida passar uma semana de cada vez. Cansei de passar por tudo sem um propósito definido.
É como se cinco anos fosse um tempo muito além do que posso enxergar. Meu objetivo está lá na frente, e se não consigo visualizar meu objetivo, é como se não tivesse propósito pra mais nada.

Não posso ter como base um objetivo tão longe assim. Preciso de incentivos.
Preciso ter algo pra viver por. Preciso de algo mais imediato na minha vida.

Preciso fazer as coisas valerem a pena. Preciso viver mais. Preciso fazer mais.
Preciso de algum sentido.

Não quero me tornar o personagem que eu mesmo criei há não muito tempo.

sábado, 22 de maio de 2010

Meu tempo sozinho

Percebo às vezes que sou um bocado cuzão.

Praticamente não tenho tempo sozinho. Tem sempre alguém, querendo conversar ou não, querendo fazer alguma coisa ou não, mas tem sempre alguém lá.
Não gosto de ficar sozinho, mas esse ficar significa o tempo todo. E é justamente o contrário que acontece, e isso é um pé no saco. Os raros momentos que eu tenho só pra mim são: hora de dormir, e locomoção entre um lugar e outro.

Eu costumava pensar muito antes de dormir, mas praticamente não faço mais isso. Percebi que agora faço isso o tempo todo, e não sobra nada pra quando vou dormir. É como se eu estivesse sozinho o tempo todo, então passo meu dia tirando conclusões, planejando coisas e expressando minha opinião sobre qualquer coisa silenciosamente. É estranho, mas é automático. E acho que só parei pra pensar nisso enquanto escrevo esse post.

E enfim, o ponto de ser cuzão é que eu gosto de estar sozinho nos únicos momentos que posso fazer isso. Há um monte de gente que eu nunca vi antes a minha volta, seja no ônibus, no mercado, nos corredores da faculdade ou sei lá, mas não importa, estou sozinho. Mas no momento que aparece pessoas da minha sala, não estou mais sozinho. E me vem uma raiva contida no mesmo momento.
Quero andar, ouvir as músicas que estou a fim de ouvir no momento, pensar e pensar e pensar. E me vem algum idiota atrapalhar tudo.
É o tipo de situação em que você não tem escolha. Seria bom se você pudesse falar que não quer conversar naquele momento, e não precisasse explicar mais nada. Seria bom se você pudesse dizer isso e as pessoas entendessem.
Ou talvez eu seja chato pra caralho mesmo.
O que eu realmente não me importo.

Talvez também seja o caso de as pessoas da minha sala não serem tão interessantes ao ponto de eu preferir elas ao meu momento sozinho.
Não todas, mas boa parte das pessoas daquela sala me cansa. Não que eu não seja estranho o bastante pra falar algo deles, mas não é isso.
Eu gosto de gente estranha. É quem normalmente me chama mais a atenção.
Eles não são estranhos. São até normais demais. Bobos demais.
É meio foda não me identificar com praticamente ninguém do meu próprio curso. Às vezes parece que não pertenço a aquele grupo. Às vezes parece que ninguém pertence a aquele grupo.
Sei lá, pelo menos eu sei que o problema não é o curso em si. Estou muito feliz com ele. Mas as pessoas não ajudam.

Eventualmente eu apareço e falo mais.