domingo, 30 de agosto de 2009

A Loucura e o Desconhecido III

Ela desaparece de vez em quando, só para variar um pouco de ares - é da sua natureza. Não tinha notícias há pelo menos uma semana quando ela apareceu do nada em casa, fazendo sua aparição habitual após seu periódico tempinho de desintoxicação do mundo. Eu não tinha grandes planos pra noite, e nem ela. Sua falta de rumo me intriga, mas é sempre divertido quando ela termina em casa. Ficamos por aqui mesmo, e começamos cedo. Trouxe consigo uma garrafa de whisky cheia que sobrou de sei lá que festa de sei lá quem. A origem não importava mesmo.
Ficamos jogados no gramado dos fundos, meu espaço preferido da casa. Com os enormes muros que cercam todo o terreno, qualquer luz externa é bloqueada, deixando o céu totalmente livre para ser admirado e encarado em sua plenitude. Um dos únicos lugares onde posso fugir de verdade para contemplar a minha distância do mundo que tanto me assusta. Mesmo com Alice, posso sentir alguma vez que não há controle, que não há regras, e que nada pode interferir nos meus atos. Enquanto esse turbilhão de sensações e pensamentos surgiam, os estalos começavam a explodir em uma conversa que ficava mais densa e desabafada quanto menor era o nível da garrafa.

*
Você pensa o quê da vida?
Pensa que vale a pena?
Esquece de toda aquela cena
E pisa em sua antiga ferida

Eles cospem no seu rosto
Te deixam tão cansado
E desse ser tão mal amado
Abusam a todo gosto

Chega ao fundo do poço
Tão logo e tão moço
Quando a sorte já fugiu

A vida vira as costas
E cancela as apostas
Somos levados pelo rio
*
Será que a vida é tão louca
Que quando percebemos
Lá se foram nossos remos
E a chance de volta é pouca?

Estamos tão perto da porta
Marchando rumo ao fim
Não existe mais um sim
Toda a esperança é agora morta

Desacreditado sempre estive
Mas cansei de ser quem vive
Na desordem que espanta

Cansei do que é falso
Já que estou descalço
Cubra-me com sua manta

*

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