domingo, 30 de agosto de 2009

A Loucura e o Desconhecido I

Não dormi esta noite. Passei cada minuto da madrugada ouvindo os latidos pela vizinhança, o barulho medonho do vento nas janelas e os trovões que ameaçavam fazer tudo ir a baixo. A chuva gelada e barulhenta só deu uma pausa pela manhã, dando o lugar de sua raiva para os leves pingos que escorriam da calha do telhado. Sim, geladíssima. Sei disso pois pouco antes dos primeiros raios de luz, após minha longa jornada bagunçando os lençóis e reparando na luz da TV que não parava de piscar, me deu vontade de sair daqui. Surgiu uma vontade maior ainda de mergulhar naquela chuva grossa, que vinha acompanhada somente pela luz da lua, em parte escondida atrás de enormes nuvens negras avermelhadas, porém não tive coragem de enfrentar aquele frio todo. Fiquei ali, apenas encarando a fúria da água e a falta de vida da escuridão. Falta de vida que sempre me amedrontou e me desafiou, mas naquele momento me chamava e me mantinha atento como balas coloridas para uma criança. Era o desconhecido, que nunca encarei durante a minha vida, quase que trocando palavras e sensações comigo.
Aos poucos aquela chuva eterna vinha enfraquecendo, assim como o vento, ao mesmo tempo que surgia a fraca e singela iluminação do início da manhã. Voltei para dentro, encarando um ambiente tão silencioso e calmo como nunca poderia ser em nenhuma hora do dia. Talvez até pudesse, mas não para mim. Estava entrando na hora onde tudo está em seu estado fundamental, sem movimentação, sem a loucura usual. Apenas minha cabeça pensando, analisando, e ponderando, na mais perfeita harmonia e simplicidade, que somente eu, e mais ninguém, poderia me proporcionar naquele momento tão único. Um momento breve, infelizmente, que é seguido pela pior das horas, onde toda a loucura retorna, e com ainda mais força, introduzindo todo o resto de podres que se seguem nas horas seguintes, enquanto mata o clima daquele primeiro momento para que não volte mais por um longo e mascarado período chamado dia. Vestimos, então, nossas armaduras, prontos para situações tão ridículas e sem importância que só fazem aumentar nossa vontade de fuga, vontade de proteção, e nos fazem buscar o momento mais puro do dia simplesmente para poder acreditar que pode ser assim, que pode ser tudo tão individual e sozinho por alguns minutos. Que podemos acalmar nossa alma. E acabo me perguntando o porquê de nos privar desse momento simples, e ir direto para a parte ruim. Talvez a graça só exista justamente por isso. Talvez. Só sei que não desperdicei meu tempo pensando no que viria. E nem se quisesse.
As milhões de coisas que bagunçaram minha cabeça durante todo o tempo que usaria para o sono continuavam lá. Elas, na verdade, estavam ali há tempos, mas ganhavam força nas últimas horas. Havia amadurecido a idéia que, até então era tão distante e tímida, tão sem querer, e até mesmo tão cômica, e que agora ganhava força e necessidade. Uma força maior que eu mesmo. Uma vontade suprema, um pensamento e um sentimento que se tornavam fato na minha cabeça. Um fato com razão e explicação, mas talvez sem muita intenção.

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