segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Como sonhar?

Henrique, certo dia, resolveu brincar de sonhar. Ouvia dessa brincadeira a todo momento pelos lugares que passava, e tinha tanta vontade de tentar. Com certeza era divertido, ele pensava; "Só pode ser! Eles sorriem tanto quando brincam disso... Só pode ser!". Ele sabia que aquilo podia fazer ele sorrir também, e ele queria tanto sorrir como os outros em volta. Sorrir parecia bom; parecia ser diferente daquela dorzinha encômoda que ele sempre sentia. Era uma dor que não era dor, não tinha lugar, não tinha jeito, não parecia dor. Mas incomodava, disso não tinha dúvidas. Sempre que falava dessa dor pra sua mãe, ela respondia que ele devia se acostumar; "É pra sempre, filho, não tem como tirar. É dor de nascença, é assim que você é, e é assim que sempre vai ser.". Ele sempre insistia no assunto, pois sabia que podia mudar. Logo percebeu que sua mãe também tinha essa dor, e o que mais queria na vida era sumir com a dor todinha. Pensou, então, que sonhar talvez pudesse tirar aquela dor, mesmo que não fosse pra sempre. Sua mãe sabia o quanto ele queria sonhar, e o quanto a dor incomodava. A dor estava lá desde que ela descobriu que era gente, e aquele mal de nascença também atacava seu filho. Ia remoendo, tão devagar e sem vontade, até que em um certo momento ela se torna insuportável e incontrolável; é você agora sem vontade; e ela te faz querer correr, sumir de tudo, apagar em um silêncio sem fim. A dor corrói e te amarra, e sonhar é o único remédio. Foi o que sua mãe descobriu; ela queria sonhar também. Ia sonhar pra sempre, e ia mostrar para Henrique que a dor tinha remédio, e que ele podia viver jogado num infinito de nada, num desejo supremo de flutuar e não sentir, num lugar onde não existe motivo pra dor; não existe motivo pra fugir, e nem pra sonhar.
E Henrique aprendeu a brincar de sonhar. Seu sonho eterno, abraçado com sua mãe, sem nunca mais sentir dor ou medo. Sem nunca mais sentir nada. E como é bom sonhar.

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